sábado, 19 de março de 2011

Estética x Valores: Confusão de Identidade

Meu nome não importa. Não tenho identidade. Desde muito cedo criei o vício de imaginar que todas as outras pessoas eram melhores que eu e assim fui "construindo um eu ideal". Pegava manias interessantes daqui, vestia uma roupa singular dali, me comportava como fulano ou ciclano. Mas um dia aconteceu algo estranho que me fez despertar daquele hábito cíclico.
Estava fazendo caminhada numa trilha híngreme que me levava até o topo da mais alta montanha que já conheci. Fazia este exercício uma vez por mês desde o dia que vi deslumbramento nos olhos de uma adolescente que fazia o mesmo. A partir daí queria este encanto para mim, mesmo que nunca tivesse gostado de fazer exercícios físicos. Pois bem, quando acabei de quase escalar a montanha senti que deveria ficar encantada com a vista de lá de cima - sorri. O vento, o frio, as luzes que a pouco se acendiam ao entardecer não comoviam profundamente meu coração. Exausta e decepcionada comecei a descer a montanha por um caminho diferente para, quem sabe assim, encontrar algo que inundasse minha alma de felicidade. Para minha surpresa, em um ponto mais plano da montanha, encontrei uma pequena lagoa alimentada por uma fonte fraca que surgia daquele lugar. Fui até perto, me agachei, olhei meu reflexo e logo lembrei da história de Narciso. "Simples e totalmente avesso a mim" - pensei. Narciso se encantava com a imagem que via refletida no rio. Tanto que morreu afogado. Eu me olhava, mal me reconhecia e muito menos via beleza naquela estranha a minha frente. Aliás, o que é beleza mesmo? Ao ver a estranha a minha frente aquele dia tive impressão de não conhece-la, de não saber o que havia de "bonito" nela. Fui embora pensativa.
Agora estou construindo minha identidade sem saber pra que existo como todas as pessoas sobre a face da Terra. Talvez descubra de vez um dia quem eu seja. Talvez eu vá conhecendo pouco a pouco a pessoa que verdadeiramente sou. Talvez meu destino seja mesmo viver sem me descobrir e sem definir o que  é beleza. Talvez eu vá descobrir que beleza é apenas um conjunto de regras estéticas que alguém ou "alguéns" impuseram - ou impõem - ao mundo. Talvez veja que beleza -
aquela que é visível aos nossos olhos - nem exista, porque o que forma nossa identidade é a beleza interna. E pelo menos isso eu descobri.

- Flávia Freitas Gomes

sexta-feira, 4 de março de 2011

O herói somos nós... JUNTOS

Quando se é criança temos o desejo de transformar para melhor o que  está a nossa volta, de inverter o pensamento constante de que o certo  não é a construção de bombas atômicas, imposição de regras ou poder.  Temos o estilo humano ideal a se seguir: o heróico dos nossos  quadrinhos e desenhos animados. Somos estimulados durante toda a  infância a salvar o mundo e cansamos de ouvir que "crianças são as  
sementes do amanhã".
Depois que crescemos e começamos a analisar com mais profundidade as  milhares de questões que poderiam mudar a humanidade,vemos que sozinhos  não conseguiríamos realizar aquele sonho de toda criança. Mas enfim,  digo isso tudo porque ontem ao vir pra casa em uma condução lotada, ouvi uma frase que me deixou intrigada. Ao estar naquele cenário humilhante que eu e todos do ônibus se encontravam após quarenta minutos de espera no ponto, comecei a filmar as  pessoas e os relatos delas. Uma dessas pessoas incitava as outras a  gritarem e levantarem as mãos para que aparecessem no vídeo, já que eu  estava com o braço levantado filmando de cima. Uma das pessoas gritou a  frase que até agora me deixa pensativa:

- De que adianta filmar? Não vai resolver nada.

Outros murmurinhos prosseguiram a frase pessimista.

Dali em diante fiquei mais uns dois minutos fazendo imagens e parei.  Aquela frase ainda reverberava na minha mente com toda a sua entonação  de tristeza. Talvez tivesse me tocado porque ao escolher minha profissão - jornalismo - ainda tinha em mente aquela utopia de menina  supergirl. Talvez porque a verdade estivesse batendo na minha  cara repetindo amargamente tudo o que os professores que tive até agora  na faculdade e as pessoas com que lido no trabalho me dizem:  "Jornalista não salva o mundo. Jornalista apenas mostra o caminho para  que as pessoas - com seus próprios esforços - tomem uma atitude.".
É preciso saber que os jornalistas não são uma raça de heróis falidos  porque não conseguem "resolver nada". Jornalistas são os  indicadores, os  anunciadores, a pedra no sapato, mas não são os mocinhos que salvam o dia, infelizmente. Não cabe a eles continuarem com a teoria que têm desde criança. Cabe a nós - eu, você, todos - nos unirmos em  prol de vencer a batalha contra o único personagem que existe tanto em quadrinhos como na vida real: o vilão. Quem é o vilão? Bom, isso já é outra história...

- Flávia Freitas Gomes