Já no fim do século XIX, os escritores brasileiros
faziam uso de traços tomados do cinema, o que, posteriormente, evoluiu. Em O
invasor, de Marçal Aquino, há uma relação peculiar entre literatura e
cinema, pois o roteiro do filme, lançado singularmente antes do livro, vem
anexado à obra. O autor pretende assim valorizar o roteiro, caído no
esquecimento e sentido provisório, havendo uma recepção diferente, que é estimulada pelo
mercado editorial.
Essa obra de novo realismo rompe com a narrativa modernista, pensando agora o
cotidiano. Assim, através de uma narrativa ficcional, em primeira pessoa, O
invasor apresenta uma violência anunciada, ou seja, aludida. Fora de
quadro, segundo o próprio autor, ela se torna mais tenebrosa, pois faz com que
o leitor ou o espectador a imagine.
A estória, que se passa na periferia de São Paulo,
traça um retrato do Brasil contemporâneo, onde a marginalidade e a violência
são consequências da desigualdade social. Trata-se de um caso em que homens ricos contratam um pobre para
matar um “amigo”. Sem ética, as classes sociais se igualam na narrativa,
fazendo com que não haja bem ou mal. Todos são bandidos, embora sejam também
vítimas do sistema social desigual.
O leitor ou espectador, através da hiperrealidade
da literatura presente, sente que os valores estão corrompidos. Isso, portanto,
nos faz refletir o futuro das relações e como elas podem se manter na
contemporaneidade.
- Flávia Freitas Gomes
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