domingo, 18 de março de 2012

O invasor



Já no fim do século XIX, os escritores brasileiros faziam uso de traços tomados do cinema, o que, posteriormente, evoluiu. Em O invasor, de Marçal Aquino, há uma relação peculiar entre literatura e cinema, pois o roteiro do filme, lançado singularmente antes do livro, vem anexado à obra. O autor pretende assim valorizar o roteiro, caído no esquecimento e sentido provisório, havendo uma recepção diferente, que é estimulada pelo mercado editorial.
Essa obra de novo realismo rompe com a narrativa modernista, pensando agora o cotidiano. Assim, através de uma narrativa ficcional, em primeira pessoa, O invasor apresenta uma violência anunciada, ou seja, aludida. Fora de quadro, segundo o próprio autor, ela se torna mais tenebrosa, pois faz com que o leitor ou o espectador a imagine.
A estória, que se passa na periferia de São Paulo, traça um retrato do Brasil contemporâneo, onde a marginalidade e a violência são consequências da desigualdade social. Trata-se de um caso em que homens ricos contratam um pobre para matar um “amigo”. Sem ética, as classes sociais se igualam na narrativa, fazendo com que não haja bem ou mal. Todos são bandidos, embora sejam também vítimas do sistema social desigual.
O leitor ou espectador, através da hiperrealidade da literatura presente, sente que os valores estão corrompidos. Isso, portanto, nos faz refletir o futuro das relações e como elas podem se manter na contemporaneidade.

- Flávia Freitas Gomes

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