segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Enquanto isso na sorveteria...

- Oi! Tem sorvete de creme?

- Não, mas tem de Galak, Babaloo e Kinder Ovo - respondeu a atendente.

O Kinder Ovo era branco com pontinhos pretos, não vinha surpresa e nem era caro.

Decepcionada, pedi um sorvete de Maracujá, imaginando que ela responderia "Não. Esse aqui é de Del Valle." Porque certamente quem criou os nomes desses sorvetes lava a louça com Bombril, jamais com lã de aço.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Um banho, por favor!

O verão começa e com ele a sensação de calango no deserto e camelo com sede. Para me preparar para essa belíssima estação que repudio, comprei um sabonete líquido esfoliante. No frasco, as instruções recomendavam o uso com no mínino três dias entre as aplicações. Um luxo duas vezes por semana para aliviar a tensão.

Acordei às 6h da manhã, em um sábado de sol com medo de ter perdido a hora. Não. Acordei no horário certo mesmo. Shorts, All Star e disposição. Saí com dois anjos da guarda em um Ka, que aguentou - com sua suspensão ruim - dezenas de garrafas d'água, roupas, sacos de ração e buracos. Muitos buracos.
No caminho, uma bela vista da subida da serra escondia entre os morros três fendas que se abriram nas chuvas dos primeiros dias de 2013.

Carros arrastados, cães perdidos, casas que não existem mais. Quentinhas chegam na hora do almoço. Força para quem aos poucos tira lama de dentro do que um dia chamou de lar.

O bairro sem água encanada, ponte e casas ainda é saqueada por quem provavelmente não tem mais nada a perder. Fraldas chegam no abrigo, para alívio das mães. Sorrisos dizem sem palavras o "obrigada" sincero. Na rua, pedidos de água, roupas íntimas e para bebês. "Onde está pior?", pergunta o voluntário recém-chegado.

Turistas tiram fotos, mas não posam na frente do carro virado - já sem rodas - em uma sala. "Não sabia que tinha sido assim. Olha isso!!". Emissoras de televisão congestionam a rua. "Tão dando algo?" "É do Wagner Montes! Tão entrevistando o prefeito."

Xerém está a Índia sete vezes mais confusa. E o sabonete esfoliante? Já está acabando.

Flávia Freitas

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

21/12/2012

Antes acabar o mundo em um único dia, que vê-lo definhar aos poucos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012


O jornal de domingo,
atualmente de sábado:
mudança de costumes
Flávia Freitas
A
pós a publicação na Revista de Comunicação do texto “Jornais de domingo. Ou de sábado?”, do jornalista Gualter Mathias Netto, abrimos uma discussão mais ampla do assunto abordado. O editorial retrata a transferência do antigo calhamaço dos jornais de domingo, para sábado, e traz à tona duas questões: a quebra de hábito da leitura aprofundada do domingo e o consumo de notícias que Gualter chama de “velhas”, por não precisarem de dia certo para ser publicadas. De acordo com o jornalista, a mudança estaria acontecendo devido ao fato de que o sábado seria um dia “escasso de acontecimentos”, o que justificaria a antecipação de matérias de domingo que foram produzidas durante a semana.
Porém, leitores assíduos mostram outras razões pelas quais essas transformações ocorrem. Para Bruna Caldas, estudante de jornalismo da FACHA, a alteração das publicações é ruim e não vê problema em ler “matérias frias”, ou “velhas”. “Acho que encher o jornal de sábado não é bom, financeiramente falando. Todo mundo sabe que é o de domingo que dá retorno. Creio que isso é uma tentativa de aumentar o número de vendas no sábado. Quanto a ler matéria que já foi dada, eu prefiro esperar por uma notícia bem apurada, aprofundada, do que pela notícia quente que é suitada 500 vezes a cada nova informação que surge” – enfatiza. Além disso, cita um dos assuntos em voga na comunicação: a extinção do impresso. “Se você reparar, todo dia tem um complemento nas publicações. É tentativa de atrair leitores” – relata.
imagem.bmpApesar dos rumores sobre a vida do jornal, nada confirma que ele deixará de ser querido pelos os que preferem “tocar a notícia”, já que para muitos a informação por ele transmitida é mais confiável. É o que revela uma pesquisa realizada pelo Ipsos-Marplan e divulgada pela Folha de São Paulo.
A pesquisa mostra do ponto de vista qualitativo, que os jornais são identificados com "profundidade", "confiabilidade" e "detalhamento e abrangência de informações". Algo que não é encontrado na internet. Outro dado sobre o hábito desse consumo evidencia que 67% fazem a leitura entre as 9h e as 13h, por 38 minutos, em média. Muitos identificam o jornal com o café da manhã.
Por isso que para Beatriz Bernardino, Meteorologista e leitora de impresso desde a infância, a mudança nos dias das publicações não agradou. Para mim essa mudança não é muito boa, porque é no domingo que eu tenho tempo de sentar para ler com calma. No sábado sempre tem coisa para fazer, no caso fazer feira, ir ao supermercado... Domingo eu tomo café lendo o jornal.” Portanto, a dica é esperar, pois apenas o sucesso, ou o fracasso, desse novo formato ditará se o hábito nas manhãs dominicais prosseguirá ou não. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Frenesi


Saí de casa rotineiramente para pegar o ônibus que passa, ou pelo menos deveria passar, às cinco e meia. A pontualidade britânica me surpreendeu. O carro é cheio de baratas, a passagem custa R$6,00 e a empresa é a única que faz o trajeto da minha casa à Central, mas quem liga? Ser comparada a uma sardinha dentro daquela lata velha já passou de ser comum. Agora é normal. A gente vai dando um “jeitinho”.
http://aquiomundodedani.blogspot.com.br
            Em pé, peguei o celular e chequei os tweets, quase todos de sites de “notícias”. Hoje seria eleito o presidente dos Estados Unidos. A timeline só falava disso. E de outras coisas, como quantos filhos Mitt Romney tem, como e quando governou Michigan, suas contradições, erros de governo do então presidente Barack Obama e até, leiam bem, até o estilo musical preferido de cada candidato. A cobertura jornalística dava mais ênfase às eleições estadunidenses do que a votação dos royalties do petróleo no Brasil. Fotos no topo de todas as páginas de notícias na internet, links ao vivo, e todo um frenesi demasiadamente chato e desnecessário, além de uma pesquisa de intenção de voto MUNDIAL. Oi?
            As pessoas se perguntavam no Facebook quem iria ganhar as eleições sem saber ao menos o nome de um vereador eleito em sua cidade. Como disse mais cedo no Twitter ao ver as postagens sensacionalistas, “se parássemos de valorizar tanto um país que só sabe pensar em si e se intrometer onde não deve (e isso eu não disse, pois não caberia dentro de 140 caracteres), talvez os Estados Unidos parassem de pensar que são donos do mundo.” Nós seríamos brasileiros mais nacionais. Valorizaríamos mais nossa cultura que, mesmo mesclada, é nossa porque é única. Vestiríamos a nossa camisa, pararíamos de chamar música evangélica de gospel e deixaríamos de escrever tantas palavras em itálico. Quem sabe assim, assumindo nossa identidade, o mesmo país, que invade terras alheias com desculpa de proteger, pararia de nos apontar canhões, vender heróis e nos oferecer “liberdade” em calças jeans*?!
Desci do ônibus.
*jeans: lona de caminhão

Flávia Freitas Jabor

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Parceria

    Hoje, 31 de julho de 2012, foi um dia incomum. Termina hoje uma das melhores fases na vida de no mínimo dezoito jovens de nove áreas do Rio de Janeiro. Jovens que aprenderam muito durante um ano e meio e que representaram as áreas onde vivem, no RJTV, como Parceiros do RJ.
    Fui à emissora bem cedo. No caminho, lembrei do primeiro dia em que pisei na redação para uma entrevista individual com um tal de Erick. Abri a porta de vidro, sentei em um sofazinho à direita e fiquei aguardando.
    Estava quase na hora do RJTV começar. A redação estava movimentada. Em um entra e sai de pessoas correndo, Ana Paula Araújo passa e me dá um sorriso. Congelei, tipo Avenida Brasil. Fui notando que aquele lugar não me era estranho. Quantas luzes no teto! Nas paredes também! Tem até um telão no fundo da redação! - pensava. Tentava buscar na minha mente de onde conhecia aquilo, quando finalmente vi o JN e o famoso globo atrás da bancada. Claro! Era o lugar que eu sempre dizia pra minha mãe que iria trabalhar um dia. E consegui!
    Aprendemos algumas técnicas de gravação de imagens, som, luz, reportagem, texto, demos opiniões nas edições das matérias, aprendemos - apesar de muitos tropeços - "como contar uma história". E ouvimos tantas histórias... Da vida de grandes nomes do Jornalismo, ao velhinho reclamão que acaba te dando uma pauta. Apuramos, fizemos imagens de apoio, complementos, me disseram até que eu não entendia de obra! Houve muita decupagem, muita alegria quando uma matéria repercutia e até um choro quando algo não dava certo. Caiu!
    Aquela correria, principalmente em dias de emplacar factuais, transformaram o pensamento daquela menina que um dia queria apenas trabalhar no impresso. O negócio é TV! "E você fica viciado nisso, Flavinha!", disse uma vez o Mauro, um dos editores dos Parceiros.
    Alguns diriam que a vida é feita de OBA!, EPA! e UFA!. Mas eu acrescentaria um AHHH! de "acabou?". Fiquei viciada mesmo. E agora? 
    Agora é seguir em frente nesse que é "o primeiro dia do resto das nossas vidas". Sem medo. Porque, como diria um grande rapporter chamado Petter MC, "se a ladeira está aí, parceiro, nós vamos subir".



Obrigada a todos os envolvidos no projeto Parceiro, que tanto ajuda diversas áreas e pessoas do Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo! 
    

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Mais uma vez na biblioteca

Há um ano atrás fui na biblioteca comunitária de Parque Paulista, em Duque de Caxias, para fazer uma das primeiras matérias do projeto Parceiro do RJ. Alguns meses depois voltei na singela salinha de estudos para registrar os problemas que a biblioteca estava enfrentando com as fortes chuvas. O vídeo na época foi publicado no Blog dos Parceiros.
Mas, a história é tão fascinante que voltei pela terceira vez, com o intuito de mostrar em apenas dois minutos um pouquinho dessa ideia bacana. O vídeo era para a Verificação de Aprendizagem da FACHA, na disciplina Comunicação em TV e Vídeo. Quem não viu antes na TV, pode assistir um pouco agora. ;)

Gostou? Comenta aqui embaixo e siga aqui ao lado! ;D

Beijos

Flávia Freitas
Parceira do RJ em Duque de Caxias
flavia.gomes@tvglobo.com.br
@flavialee

quarta-feira, 21 de março de 2012

Pode ser bom

       Sabe aquele dia em que já você acorda sabendo que algo dará errado, pisa primeiro com o pé esquerdo ao levantar da cama e tudo começa a conspirar contra você? Vivi um desses dias hoje.
       Rotineiramente às manhãs vou para a faculdade de ônibus, sentada e, obviamente, dormindo. Eis que a estranheza começa daí.
       Para minha surpresa o ônibus estava lotado e quando cheguei na faculdade, duas horas depois de um lindo trânsito, notei que não havia levado a carteira. Cansada, com sono, sem dinheiro.
       Hora do intervalo, hora da alegria! Vamos comer. E lá estava eu: cansada, com sono, sem dinheiro e com fome.
       Pedi uma graninha emprestada a um amigo (beijo, Rafa) e fui comer um pastel no China. Tropecei duas vezes na mesma escada, e olha que eu estava prestando atenção em cada degrau. Fui trabalhar!
       Cheguei à emissora e tive a primeira alegria do dia! Minha matéria estava no ar. Que orgulho! *-* Mas a fome começou a me perturbar novamente e lá estava eu. Cansada, com sono, sem dinheiro e com fome de novo. Fui embora, já que o que eu deveria ter levado para a emissora também esqueci em casa. Estava cansada, com sono, sem dinheiro, com fome de novo e bolada.
       No caminho até o ponto vi um mendigo implorando por alguma moeda a um funcionário da farmácia. O homem pedinte parecia exausto, fustigado pela vida, sem um tostão no bolso - nem bilhete único -, e ainda repetia várias vezes: "Estou há dois dias sem comer!!". 
       Lembrei na hora de Pollyana, obra de Eleanor Porter, que li recentemente. A personagem principal, nome do livro, jogava um tal de "Jogo do Contente". Consiste basicamente em pegar um fato ruim da sua vida e se contentar por não ser pior.
       Foi, apenas, o segundo momento alegre do meu dia. Eu joguei o jogo. 

Vamos brincar?

- Flávia Freitas
@flavialee

domingo, 18 de março de 2012

O invasor



Já no fim do século XIX, os escritores brasileiros faziam uso de traços tomados do cinema, o que, posteriormente, evoluiu. Em O invasor, de Marçal Aquino, há uma relação peculiar entre literatura e cinema, pois o roteiro do filme, lançado singularmente antes do livro, vem anexado à obra. O autor pretende assim valorizar o roteiro, caído no esquecimento e sentido provisório, havendo uma recepção diferente, que é estimulada pelo mercado editorial.
Essa obra de novo realismo rompe com a narrativa modernista, pensando agora o cotidiano. Assim, através de uma narrativa ficcional, em primeira pessoa, O invasor apresenta uma violência anunciada, ou seja, aludida. Fora de quadro, segundo o próprio autor, ela se torna mais tenebrosa, pois faz com que o leitor ou o espectador a imagine.
A estória, que se passa na periferia de São Paulo, traça um retrato do Brasil contemporâneo, onde a marginalidade e a violência são consequências da desigualdade social. Trata-se de um caso em que homens ricos contratam um pobre para matar um “amigo”. Sem ética, as classes sociais se igualam na narrativa, fazendo com que não haja bem ou mal. Todos são bandidos, embora sejam também vítimas do sistema social desigual.
O leitor ou espectador, através da hiperrealidade da literatura presente, sente que os valores estão corrompidos. Isso, portanto, nos faz refletir o futuro das relações e como elas podem se manter na contemporaneidade.

- Flávia Freitas Gomes

sábado, 3 de março de 2012

Segue a dica: A casa dos espíritos

Isabel Allende
Com doze edições internacionais, “A casa dos Espíritos”, lançado em 1982, é o primeiro bestseller internacional da escritora latino-americana Isabel Allende Llona. O romance transcendental retrata a geração de uma família em que os laços de amor e ódio são mais completos e duradouros que as situações políticas que os põem em desacordo.
Segundo o site da autora, Isabel já vendeu em média 60 milhões de livros dentre os 19 que já escreveu, e eles já foram traduzidos em 35 idiomas. Suas obras geralmente têm adaptações em teatro, cinema, rádio, ballet, musicais e óperas. O livro “A casa dos Espíritos”, por exemplo, recebeu uma adaptação no cinema, com um longametragem, dirigido por Billie August, lançado em 1993 nos Estados Unidos sob o nome de “The House of the Spirits”. Além disso, a obra foi adaptada também para o teatro, contando com 10 obras, divididas entre Porto Rico, Inglaterra, Israel, Chile e Estados Unidos, onde teve apenas aí seis peças.
Dentre suas obras, destacam-se, além de “La casa de los Espíritos”, “De Amor y de Sombra”, “Eva Luna”, “Cuentos de Eva Luna”, “Paula”, “Afrodita”, “Hija de la Fortuna”, “Trilogía juvenil” e “El Zorro”.
A escritora nasceu no dia 2 de agosto de 1942 e tem nacionalidade Chilena. É criadora da Fundação Isabel Allende, fundada em 1992, que visa ajudar mulheres e meninas, tanto no Chile, quanto internacionalmente.
Na época em que escreveu “A casa dos espíritos”, o Chile vivia uma ditadura militar que durou 17 anos. Filha de diplomata e sobrinha do então presidente do Chile, Salvador Allende, teve de se refugiar na Venezuela após a morte de seu tio e a imposição da ditadura. Aí escreveu o livro “A casa dos Espíritos”. Cria-se assim uma semelhança da vida da escritora com a história da obra, principalmente por seu tio ter morrido em um bombardeio ao palácio de La Moneda, bem semelhante à morte do presidente da ficção de Isabel. Além disso, ter sido influenciada pelo poeta chileno Pablo Neruda a deixar seu trabalho, como repórter, para escrever livros também é um traço parecido com os personagens “criados” pela escritora.
Na trama, Estebán Trueba, o patriarca da família, casa-se com Clara, da aristocrata família Del Valle. Embora Estebán quisesse ter se casado com a irmã de Clara, Rosa, não o fez, pois a jovem morreu com o veneno que era destinado a seu pai, Severo.
Estebán enriqueceu através da imposição do regime capitalista em Las Três Marías, terra miserável situada na zona rural deixada por seu pai. Violentava mulheres no campo, mas só reconheceu como filho o de Pancha García, ao qual deu seu nome: Estebán García.
Com o passar dos anos, Las Três Marías se tornou em uma terra fértil e dava muitos lucros a Estebán, que, desse modo, conseguiu reformar a casa da fazenda e construir um casarão, o Casarão da Esquina, na cidade. Assim, sua irmã, Férula, e sua esposa, Clara, morariam na mais luxuosa das casas da cidade.
Clara não ostentava o luxo do marido, muito pelo contrário. Todas as jóias que ele lhe dava, Clara esquecia em qualquer lugar da casa. Acabaram servindo de fonte de renda para sua filha Blanca, anos mais tarde.
Estebán e Clara tiveram três filhos: Blanca, Jaime e Nicolás. Blanca tivera um romance escondido com Pedro Terceiro García, que incitava os trabalhadores a uma rebelião contra o patrão, embora seus discursos marxistas não tivessem sucesso. Da relação proibida, nasceu Alba.
Jaime era um médico solteirão, que fazia de tudo pelos pobres e marginalizados, como sua mãe Clara. E Nicolás era o que mais envergonhava a família, embora causas sociais deixassem Estebán à flor da pele. Terminou sendo faquir, ensinando Alba, sua sobrinha, técnicas para não sentir dor, o que não lhe serviu no momento que mais precisava: nas torturas da ditadura militar. No fim das contas, Trueba enviou seu filho para o exterior sem passagem de volta, onde abriu um negócio próspero.
Estebán era um homem rude e, por isso, não aturava as manias da mulher de invocar espíritos e receber em sua casa gente que julgava estranha. Clara previa desastres, o que os ajudava a se proteger. Porém, Estebán, apesar de apaixonado por sua mulher, não tinha uma boa relação com Clara, o que o levava várias vezes a um prostíbulo da cidade. Em uma dessas idas, conheceu Tránsito Soto, uma prostituta que queria ter seu próprio negócio e ser rica.
Com o passar do tempo, e por influência de outros países, a ideia socialista se instalou nos trabalhadores, que começaram a reivindicar seus direitos. Alba, a neta de Trueba se envolvia em movimentos estudantis com Miguel, por quem se apaixonou. A ideia de ter uma adversária política dentro da própria casa incomodava Estebán, mas a neta era a coisa que mais amava. A consolidação de uma nova economia política se deu com a derrota da esquerda nas eleições presidenciais. Isso enfureceu a aristocracia, incluindo Estebán Trueba, que era Senador e estava muito abalado com a morte de sua mulher clarividente.
A economia se abalou, as pessoas faziam fila para comprar alimentos e coisas que nem necessitava, afinal, tinha-se muito dinheiro para pouca mercadoria. A reforma agrária se deu, tirando de vários proprietários suas terras. Em pouco tempo, a direita armou um golpe de estado, seguido da ditadura militar, dando assim o desfecho da narrativa.
Primeiramente, Estebán Trueba achava que a imposição de violência e outras técnicas das forças militares para com os civis fossem boas para “trazer de volta a ordem anterior”, mas depois se deu conta que havia ocorrido um golpe dentro do golpe. Todos os políticos anteriores não puderam assumir seus cargos, pois foram impedidos pelos militares.
Várias mortes aconteceram e outras tantas pessoas foram em fuga para o exterior, inclusive a filha de Trueba, Blanca, e seu companheiro Pedro Terceiro García. Alba, que ajudava fugitivos a se abrigarem em embaixadas, também foi pega pelos militares. Foi submetida à tortura pelo seu próprio irmão bastardo, Estebán García, que lhe invejava. Alba foi resgatada pela influência de Tránsito Soto, a prostituta que Estebán conhecera, mas que já havia enriquecido e formado seus contatos. Já Jaime não teve a mesma sorte. Morreu no início da ditadura por se negar a dizer na TV que o presidente de esquerda, muito seu amigo, havia cometido suicídio, quando, na verdade, tivera sido morto pelos militares.
Com o Golpe, as mercadorias voltaram aos mercados, embora as pessoas não tivessem dinheiro para comprá-las. Formavam-se filas de desempregados às portas das fábricas. Vendiam sua força de trabalho mais barata e assim os lucros dos proprietários aumentavam.
Estebán e Alba, sozinhos no Casarão da Esquina, começaram a escrever toda essa história, que foi ideia de Estebán, a partir dos “livros de escrever a vida” que Clara escreveu ao longo de sua vida. Os livros não eram organizados por ordem cronológica, mas sim por acontecimentos, e assim permitiu Alba e seu avô escreverem toda a narrativa.
Por isso, o narrador oscila tanto. Pois as partes do texto foram escritas por personagens diferentes e em alguns momentos, se estabelecia um narrador em terceira pessoa, o observador, que só relata os fatos, sem nada dar palpite. Podemos então pensar que autora tenha querido estabelecer uma relação de proximidade entre personagem e leitor. Afinal de contas, quando o próprio personagem narra a história, obriga o leitor a identificá-lo através de formas de falar e agir. Desse modo, incita o interesse do leitor.
“- Clara... – murmurei sem pensar e, então, senti que me caía uma lágrima pela face e logo outra, e outra mais, até que foi uma torrente de pranto...” (narrado por Estebán, p. 332)
“Ontem à noite morreu meu avô. Não morreu como um cão, como receava, mas calmamente em meus braços, confundindo-me com Clara e, às vezes, com Rosa, ...” (narrado por Alba, p.437)
“O terremoto marcou uma mudança tão importante na vida da família Trueba, que a partir de então eles passaram a localizar os acontecimentos antes e depois dessa data.” (narrado em 3ª pessoa p.174)
Em nenhum momento o narrador, seja ele em 1ª ou 3ª pessoa, cita o país em que a narrativa acontece. Apenas deixa claro que a nação faz parte da América Latina e que os personagens principais, a família Trueba, se deslocam constantemente entre campo, em Las Três Marías, e cidade, onde havia o Casarão da Esquina.
Podemos perceber que há na narrativa, personagens planos; que são aqueles previsíveis e por isso mais fáceis de identificar; e os redondos; aqueles que sofrem mudanças, que são complexos e apresentam atitudes imprevisíveis. Estebán Trueba, por exemplo, é um personagem de fácil identificação, pois qualquer atitude é regida pela raiva, bem como a forma de falar é rústica. Sendo assim, Estebán é o que chamamos de personagem plano. Já Clara, sua mulher, é o que definimos personagem redondo, pois qualquer ação sua é imprevisível. Às vezes, devido aos acontecimentos, ficava muda durante anos, outras vezes sua reação era ficar distraída, por exemplo.
Isabel Allende vivia no período da pós-modernidade, em que havia uma grande dificuldade em discernir o que é real e ficção devido à convergência midiática. Por isso, na obra é impossível saber se a narrativa é real ou ficcional. A realidade desse período da história Chilena é tão dura que é preciso fugir da realidade, e por isso a escritora se vale do realismo fantástico, escola literária de estilo típico latino-americano, surgida no início do século XX. “A casa dos Espíritos” apresenta verossimilhança, já característica do realismo épico, com o contexto vivido na época, em que Augusto Pinochet deu à America Latina uma das mais sangrentas ditaduras da história.

 Então, segue a dica de uma belíssima obra para nós, fãs da leitura!

Beijo e até a próxima!









FONTES DE PESQUISA:
ALLENDE, Isabel. “A casa dos Espíritos”, Ed. Bertrand Brasil. 41ª Ed. Rio de Janeiro, 2010.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Enquanto isso, na faculdade...

E quando tem aquele trabalho em grupo?? Você aí do outro lado, lendo essas mazelas, certamente já passou por um desses trabalhos, seja sendo o Nerd babaca que faz todo o trabalho sozinho, ou sendo o burro que fica na praia enquanto o Nerd faz sua parte no trabalho.
O Nerd, que enquanto trabalha pelos outros adquire mais inteligência, pensa que p**** de método pedagógico é esse que obriga um pobre Nerd (que por natureza é antissocial) a aturar meia dúzia de acéfalos. Os acéfalos, por sua vez, passam o dia no facebook, construindo o que chamam de vida social. Quando não, estão dormindo, pois a vida é muito cansativa e difícil, ainda mais morando na Zona Sul e recebendo uma gorda mesada por mês dos papais.
Na vida do Nerd, quando a revolta lhe sobe à cabeça, sobra até pra sua pobre mãe, que vem com o velho discurso "você vai passar, eles não". Ao sair a nota do Enem, o Nerd se f***. O acéfalo tira uma boa nota graças a SMS's, Google e toda a parafernália nanotecnológica.
É, mundo, você não é justo! E eu sou só mais uma Nerd f*dida nessa história.

domingo, 21 de agosto de 2011

Já dizia o Profeta Gentileza

Mensagem do Profeta Gentileza.
"Gentileza gera Gentileza", dizia o profeta que há anos nos deixou suas mensagens.
Esses dias vivi toda a essência dessa frase quando voltava para casa.
Entrei no ônibus, sentei em um banco e me distraí olhando o que se passava no lado de fora da janela. Afinal de contas, apesar de todos os problemas do Rio de Janeiro, é inegável sua extrema beleza ao cair da tarde.
A condução foi lotando de tal forma que não merecia ser chamada mais de ônibus, mas apenas de lata de sardinha. O burburinho me chamou de volta à realidade. Notei então que próximo da pessoa que estava sentada ao meu lado havia uma mulher em pé segurando sua bolsa pesada. Me ofereci para segurá-la e ela cedeu.
Quando a mulher se preparava para descer, pegou sua bolsa comigo e agradeceu. Enquanto isso, mais gente entrava no ônibus. Uma outra pessoa veio ficar perto da minha companheira de assento desligada ao meu lado. Porém, sem pestanejar, ela repetiu o gesto de gentileza que havia presenciado momentos antes.
Fiquei feliz. Desci então na Central do Brasil para pegar outro ônibus rumo a Duque de Caxias.
Não havia fila para entrar nele e isso me fez mais feliz ainda. Subi para a condução e dei um alto "boa noite" para o motorista, que me olhou espantado e disse:
- Você é a segunda pessoa que me dá boa noite hoje. E olha só quanta gente subiu no ônibus!
Dei uma olhada nos passageiros que me analisaram com olhares estranhos. Virei para o motorista e sorri.
Passei na roleta e sentei, adorando ver e ouvir a pessoa que subia logo atrás de mim dando uma "boa noite" para o motorista observador.
Já dizia o Profeta: "Gentileza gera Gentileza". E você? Tem gerado gentileza?

- Flávia Freitas Gomes

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Vão as bolsas, ficam as alças

As alças usamos em outras bolsas.
Montamos um look diferente.
Uma bolsa nova, uma alça decadente.
Ora se combinam, ora brigam entre si.
Quem olha nota. Outro ri.
As bolsas descartadas vão ficar junto às outras "desalçadas".
Todas amotinadas,  recebem, às vezes, algumas alças desprezadas.
Tudo vai mudando e tudo se vai sem esperança.
Porém, só não muda quem faz a mudança.

- Flávia Freitas Gomes

segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Dorinha"

"Dorinha". Esse era o nome mais repetido na música cantada pelo o homem no ônibus que peguei.
Eu estava voltando da faculdade por um caminho diferente. Como chovia muito, decidi ir primeiro para o centro de Duque de Caxias e depois pegar uma condução pra casa, localizada numa região periférica desse município. Minha amiga Bruna, que também faz faculdade de jornalismo na FACHA, estava comigo e presenciou a cena. Nem me lembro mais do que estávamos conversando quando fomos interrompidas por esse senhor do vídeo abaixo. Ele começou a cantar várias músicas em alto e bom som. DO NADA. Todos que estavam no ônibus riram da situação. O homem cantava, batia o pé e, diga-se de passagem, interpretava muito bem. A última música, filmada por mim e postada aqui no Blog, é a que fala de "Dorinha": um relato saudoso de uma paixão.
É tão incomum ver um rompante desse que, sem querer, provoca o riso. Felicidade? Insanidade? Afinal de contas, será que a Dorinha pode nos explicar isso?


- Flávia Freitas Gomes

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Carta

Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 2001.


Senhor Carlos Lira Matos:

        Nos dias que se seguiram após o recebimento de sua carta, a qual eu li imersa em minhas lágrimas, pensei incessantemente na decisão tomada por mim quanto à vida indefesa que carrego no meu ventre. Seria ilusão de minha parte prosseguir com a ideia de que, retirando o fruto de uma violência sexual, me absteria das lembranças que me fizeram tomar tal atitude.
A ausência de uma figura paterna e recursos financeiros também me privaram de analisar as consequências ruins que um possível aborto traria a meu corpo. Mulheres mutiladas e histórias de outras que perderam a vida retirando a que estava dentro de si me serviram como exemplo, ao explorar minha consciência um tanto confusa em meio aos fatos que ocorreram comigo, de que o julgamento que havia tomado era errôneo. Contudo, não posso deixar de dizer ao senhor, que tanto me influenciou a mudar de opinião, que infelizmente não tenho como oferecer um futuro digno ao feto que está em meu ventre. Desse modo, prefiro entregá-lo à adoção, onde uma família dará a ele um lar, amor e esperança de dias melhores. Melhor que vê-lo passando por necessidades básicas de vida.
Agradeço pela atenção e incentivo à valorização da vida. Igualmente ao senhor, não sou católica e nem tenho religião.  Porém, mesmo sem credo, sei que a vida é mais importante que armas, guerras e resultante choro e dor. E se a violência acarreta essa marcha constante em direção à morte, começo a caminhar contra ela com pequenos passos e uma atitude bem simples: deixando a vida viver.

Atenciosamente,

Sabrija Gerovic

Flávia Freitas Gomes