terça-feira, 6 de novembro de 2012

Frenesi


Saí de casa rotineiramente para pegar o ônibus que passa, ou pelo menos deveria passar, às cinco e meia. A pontualidade britânica me surpreendeu. O carro é cheio de baratas, a passagem custa R$6,00 e a empresa é a única que faz o trajeto da minha casa à Central, mas quem liga? Ser comparada a uma sardinha dentro daquela lata velha já passou de ser comum. Agora é normal. A gente vai dando um “jeitinho”.
http://aquiomundodedani.blogspot.com.br
            Em pé, peguei o celular e chequei os tweets, quase todos de sites de “notícias”. Hoje seria eleito o presidente dos Estados Unidos. A timeline só falava disso. E de outras coisas, como quantos filhos Mitt Romney tem, como e quando governou Michigan, suas contradições, erros de governo do então presidente Barack Obama e até, leiam bem, até o estilo musical preferido de cada candidato. A cobertura jornalística dava mais ênfase às eleições estadunidenses do que a votação dos royalties do petróleo no Brasil. Fotos no topo de todas as páginas de notícias na internet, links ao vivo, e todo um frenesi demasiadamente chato e desnecessário, além de uma pesquisa de intenção de voto MUNDIAL. Oi?
            As pessoas se perguntavam no Facebook quem iria ganhar as eleições sem saber ao menos o nome de um vereador eleito em sua cidade. Como disse mais cedo no Twitter ao ver as postagens sensacionalistas, “se parássemos de valorizar tanto um país que só sabe pensar em si e se intrometer onde não deve (e isso eu não disse, pois não caberia dentro de 140 caracteres), talvez os Estados Unidos parassem de pensar que são donos do mundo.” Nós seríamos brasileiros mais nacionais. Valorizaríamos mais nossa cultura que, mesmo mesclada, é nossa porque é única. Vestiríamos a nossa camisa, pararíamos de chamar música evangélica de gospel e deixaríamos de escrever tantas palavras em itálico. Quem sabe assim, assumindo nossa identidade, o mesmo país, que invade terras alheias com desculpa de proteger, pararia de nos apontar canhões, vender heróis e nos oferecer “liberdade” em calças jeans*?!
Desci do ônibus.
*jeans: lona de caminhão

Flávia Freitas Jabor

0 comentários:

Postar um comentário