sábado, 14 de maio de 2011

A música durante a ditadura militar brasileira

A influência das ideias de esquerda nos meios artísticos no final dos anos 50 já era suficientemente grande para percorrer até mesmo conversas de artistas da bossa nova, então pouco voltados para a política, embora estivessem capitaneando uma verdadeira revolução estética na música popular. A hegemonia cultural de esquerda veio do florescimento cultural do início dos anos 60 e continuou em plena ditadura, até dezembro de 1968, quando os donos do poder editaram o Ato Institucional nº 5 (AI-5)
No início dos anos 60, Sérgio Ricardo, Carlos Lyra e outros compositores da bossa nova participaram do projeto do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), que se desenvolvia no teatro, cinema, na literatura, na música popular e em outras artes, buscando resgatar as tradições culturais populares no processo da revolução brasileira. Segundo Sérgio Ricardo: “as pessoas no CPC estavam buscando uma linguagem própria, uma solução para os problemas brasileiros.”
O golpe de 1964 e o movimento que o apoiou acabaram com a festa do CPC e das forças populares, deixando atônitas as esquerdas, inclusive os artistas engajados. Mas eles não tardaram a organizar protestos contra a ditadura em seus espetáculos. Os principais protagonistas do extinto CPC organizaram o show musical Opinião, que viria a dar o nome ao teatro onde era montado, no Rio de Janeiro. Atuavam no palco João do Vale, o sambista Zé Keti e a jovem cantora Nara Leão, posteriormente substituída por Maria Bethânia.
Para Ferreira Gullar, um dos autores do Opinião, o conteúdo do show, em meio a brincadeiras, era contra a ditadura pois reafirmava a reforma agrária, a luta de classes e ia contra a exploração. Desse modo, o povo se identificava e via que aquilo era a expressão contrária à ditadura. Quando a ditadura se deu conta, não pode fazer nada, porque não podia fechar um espetáculo que era o sucesso do teatro na época.
A conscientização da ditadura foi crescendo, gerando mobilização popular de forma tão grande que o governo, liderado na época pelo general Costa e Silva, decretou o Ato Institucional número 5, tido como o mais repressivo de todos. Por meio dele, além de outras imposições, a censura à imprensa e aos artistas em geral se instalou, levando milhares de pessoas à prisão e torturas, e muitas outras para o exílio no exterior, como foi o caso de Caetano Veloso, exilado em 1969.
As utopias da liberdade surgem no meio musical numa onda de dezenas de canções como “Roda viva”, de Chico Buarque, “Sinal fechado”, de Paulinho da Viola, e uma lista infinita de outras músicas com ideal de libertação. Até os samba-enredos aderiram ao mesmo ideal e em 1971 o Império Serrano desfilava gritando “ôôô, liberdade senhor”. Surgiu também a canção-hino da resistência, conclamando os jovens à ação: “Quem sabe faz a hora/ Não espera acontecer!”.
O fim da ditadura em 1985 se deu de forma lenta e com certeza foi influenciada pela conscientização da população aos fatos que ocorriam por meio da música, como por exemplo, “O bêbado e o equilibrista”, interpretada por Elis Regina que citava em seus versos o exílio de tanto brasileiros. Infelizmente, hoje não há uma mobilização musical tão grande a ponto de mudar ou pelo menos influenciar o fim de uma questão política que ameaça a vida da população. Falta o engajamento nas causas sociais e a coragem de nossos heróis da ditadura militar brasileira.

- Flávia Freitas Gomes

Referência bibliográfica:

AZEVEDO, GISLANE C. SERIACOPI, Reinaldo. História. São Paulo: Ática, 2008.

DUARTE, Paulo Sérgio. NAVES, Santuza C. Do Samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.

http://www.infoescola.com/musica/mpb-na-ditadura/

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